Alimentação de proximidade em tempos de afastamento
Artigo de Opinião publicado no website da Federação Minha Terra
Quando todos somos instigados a afastar-nos uns dos outros para reduzir contágios pelo novo coronavírus, os cidadãos, principalmente os que vivem nas cidades, aproximam-se da realidade dos produtores do complexo agroalimentar.
Num momento de crise, o que é verdadeiramente importante ganha expressão e o acesso a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, assume a importância que devia ter sempre.
Alguns produtores agrícolas têm tido dificuldade em escoar a respetiva produção. A maioria dos mercados locais, ponto importante de comercialização de uma parte da produção da pequena agricultura e da agricultura familiar, encerrou; as feiras e festivais, onde se vendiam importantes quantidades de queijos, fumeiro e outros produtos, foram cancelados; a restauração está em serviços mínimos; os hábitos dos consumidores alteraram-se, evitando alguns produtos, preferindo outros menos perecíveis e recorrendo maioritariamente aos supermercados para se abastecer…
Diversas entidades têm-se mobilizado em torno de iniciativas desde o nível local ao nível nacional, com o duplo objetivo de ajudar ao escoamento de alguns produtos agrícolas e sensibilizar as famílias para consumir local e fresco, com destaque para a campanha promovida pelo Ministério da Agricultura – “alimente que o alimenta”. A comunicação social tem dado atenção à produção primária que se mantém ativa. A Comissão Europeia anuncia apoios aos agricultores. Os cidadãos procuram soluções que lhes permitam ter acesso “facilitado” a alimentos e recorrem às entregas ao domicílio.
Algumas iniciativas com vários anos de atividade, como o projeto projeto PROVE – entrega de cabazes de hortofrutícolas – registam uma procura sem precedentes… também neste âmbito as redes sociais demostram o seu poder e os cabritos disponibilizados pela ANCRAS – Associação Nacional de Caprinicultores da Raça, numa mensagem desesperada, esgotaram em menos de 24 horas. Grupos de voluntários organizam-se para fazer chegar alimentos a quem não pode sair de casa.
Numa iniciativa do Ministério da Agricultura, do PDR2020 e dos Grupos de Ação Local, foi alterada a legislação que permite apoiar os produtores que pretendem comercializar em circuitos curtos, para poder responder de forma mais flexível e mais ágil.
Multiplicam-se as iniciativas institucionais, solidárias e colaborativas para evitar uma crise alimentar em contexto de emergência nacional, assim como noutras áreas da nossa vida em sociedade.
As Associações de Desenvolvimento Local, estão envolvidas e são promotoras de diversas destas iniciativas e, através da Federação Minha Terra, colabora ativamente com a campanha “Alimente quem o alimenta” que pretende também contribuir para uma alimentação de proximidade.
A aposta que fazemos nos Circuitos Curtos Agroalimentares e nos Sistemas Alimentares Locais, não é de agora. A crise que atravessamos, deu-lhe mais visibilidade e premência, mas o trabalho que estamos a fazer perspetiva, num futuro próximo, uma “normalidade” que pretendemos diferente e uma atitude mais cidadã, sustentável e justa em relação à alimentação.